Barretos, 08/06/2025
A Palavra de Deus que acabamos de ouvir nos transporta para o lugar onde os discípulos estavam reunidos, na manhã da Páscoa. Diz o evangelista que “estando fechadas por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam”. “Portas fechadas” e “medo” revelam não só o ambiente em que estavam, mas o estado de ânimo deles. Diante dos acontecimentos da Paixão de Jesus, eles estavam dominados pelo medo. Não se lembravam as muitas vezes que Jesus lhes dissera: “Não tenhais medo!” Nós também muitas vezes nos deixamos dominar pelo medo diante dos obstáculos que encontramos, mas também diante das consequências das nossas atitudes, assim como aconteceu com os apóstolos.
Eis que “Jesus entrou e, pondo-se no meio deles”. A presença de Jesus transforma tudo, enche de luz aquele lugar mergulhado nas trevas do medo. E, Jesus lhes fala de paz, do Espírito Santo e do perdão. Tratam-se de três elementos que afugentam o medo que paralisa e corroe os corações dos discípulos e também os nossos corações. Hoje, ao celebrar Pentecostes quero destacar a presença do Espírito Santo. Ele é aquele que nos comunica e garante a paz, e, nos dá a certeza do perdão.
O evangelho diz que Jesus soprou sobre eles. O sopro de Jesus é que transmite o hálito da vida, que recria, renova e transforma os corações. E disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo”. Sem o Espírito Santo os apóstolos não teriam tido a coragem suficiente para continuar a missão de Jesus. Eles sabiam que com a ausência física de Jesus – embora ele tenha dito tantas vezes que nãos os deixaria sós – eles com as suas próprias forças não teriam condições de levar avante a tarefa que o Senhor lhes confiara. O Espírito Santo é Deus que socorre a fraqueza, renova as forças e sustenta o testemunho daqueles que creem.
Hoje, Jesus também nos diz: “Recebei o Espírito Santo”. Você está aflito diante do futuro que parece sombrio? Você está cansado depois de tantas tentativas fracassadas de progredir na virtude e na prática do bem? Você se sente sozinho embora cercada por tantas pessoas que não são capazes de compreendê-lo e ajuda-lo? “Recebei o Espírito Santo” nos diz Jesus. Acredita que com Ele tudo se torna fácil, basta invoca-lo com fé. Acredita que Ele pode o que você não consegue e, Ele é capaz de arrombar as “portas fechadas” com a sua presença e seus dons. Hoje ele não é menos real e atuante do que no tempo dos apóstolos.
A Palavra de Deus nos transporta também para o dia de Pentecostes, cinquenta dias após a celebração da Páscoa, quando os judeus celebravam o dom da Lei. Lucas nos fala que os discípulos reunidos no mesmo lugar se vêm surpreendidos por um barulho vindo do céu, como se fosse uma forte ventania; e apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. E, todos ficaram cheios do Espírito Santo… Os sinais e a presença do Espírito Santo fazem surgir um novo amanhecer, inaugura-se na verdade um tempo novo: o tempo onde todos são impelidos a anunciar e testemunhar o Senhor pelas suas palavras e suas vidas.
A cena nos fala da capacidade que o Espírito Santo dá aos apóstolos de falar uma língua que todos entendem. Embora falassem na sua própria língua, aqueles que os escutam, os ouvem falar no seu próprio idioma. Trata-se de uma das imagens mais significativas para indicar que a Igreja que nasce do dom do Espírito não está destinada a permanecer nas trincheiras das suas paredes, mas é chamada a sair de si mesma para anunciar as maravilhas de Deus a todos para quem ela é enviada.
Trata-se de falar numa língua que todos compreendam. Não se trata de repetir uma fórmula ou fazer um discurso. Se fosse assim não seria necessário o Espírito Santo. Mas, trata-se de comunicar alguém que quer tornar-se companheiro e amigo de todos homens e mulheres, em todos os tempos. Para isso é preciso fidelidade ao Mestre que envia, mas também capacidade de compreender aquele que nos escuta, aquele e aquela que convivem conosco, para que as nossas palavras sejam capazes de tocar-lhes o coração.
Nesta semana foi publicado o índice religioso do Brasil, a partir do censo de 2022. Muitos se surpreendem por que o numero de católicos continua a cair. Embora sejamos a maioria da população brasileira, não temos mais a supremacia que tínhamos há cem anos atrás. Este não é o momento de nos alongarmos em grandes análises deste fenômeno. Mas não nos deixemos vencer pela inquietação. Nossa primeira preocupação não é de alcançar adeptos, mas examinar nossa vida para vermos se estamos transmitindo o Evangelho como fizeram os Apóstolos naquela manhã de Pentecostes.
Faz nos bem relembrar o que o Papa Leão disse na Missa de inauguração do seu ministério de sucessor de Pedro, no dia 18 de maio passado: “Este é o espírito missionário que nos deve animar, sem nos fecharmos no nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo; somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus, para que se realize aquela unidade que não anula as diferenças, mas valoriza a história pessoal de cada um e a cultura social e religiosa de cada povo”.
Deixemo-nos tocar pelo Espírito Santo. Ele quer nos libertar do medo e dar-nos um novo impulso para que com coragem e confiança na sua assistência possamos como fez a Virgem Maria, acolher o Espírito em nossos corações e permitir que Ele gere Cristo em nós!
O ministério musical responsável pela celebração foi o coral diocesano Paráclito e sua orquestra, que emocionou e tornou este dia ainda mais especial.