Na manhã desta terça-feira (10), os membros da Pastoral Presbiteral das Dioceses de Barretos, Catanduva, Jales, Votuporanga e Arquidiocese de São José do Rio Preto se reuniram na Casa de Encontros Dom Antônio Maria Mucciolo. A reunião contou com a presença de Dom Milton Kenan Júnior, Bispo de Barretos, que acompanha a Pastoral Presbiteral na nova Província, até então, RP II.
Durante a reunião, o Bispo de Barretos apresentou uma síntese da análise da pesquisa “Saúde Integral: Dom Precioso de Deus”, realizada pela CNBB sobre a saúde física, psicológica e emocional dos bispos e presbíteros. Com base nesse texto (na íntegra ao final desta redação), os participantes discutiram e apresentaram suas expectativas e propostas para fortalecer a Pastoral Presbiteral nas Dioceses da Província Eclesiástica.
Entre as sugestões apresentadas, destacou-se a proposta de um Programa de Saúde Integral que envolva o Serviço de Animação Vocacional, os formadores dos Seminários e a Pastoral Presbiteral. Essa proposta será encaminhada aos Bispos e presbitérios para análise e implementação.
A reunião foi encerrada com um almoço preparado pelas Irmãs Missionárias da Ação Paroquial, onde pode ser momento de comunhão e partilha, reforçando os laços de fraternidade e colaboração entre os participantes.
A Pastoral Presbiteral desempenha um papel fundamental no acompanhamento e suporte aos presbíteros, e iniciativas como essa demonstram o compromisso em promover a saúde integral e o bem-estar dos ministros ordenados.
“Para uma pastoral presbiteral
a serviço da saúde integral dos presbíteros”
Recentemente foi enviado aos bispos o resultado da pesquisa realizada com bispos e presbíteros do Brasil. É importante considerar que no Brasil temos 278 circunscrições eclesiásticas distribuídas nas mais variadas regiões deste país continental. Nela temos quase 500 bispos (contando os eméritos que chegam aproximadamente a 170) e mais de 22 mil presbíteros.
A fim de averiguar sobre a saúde dos ministros ordenados depois de um estudo sobre o tema “saúde como cuidado”, foi elaborado um questionário que deveria limitar-se a alguns aspectos, considerando que outros já haviam sido objeto de estudo da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Assim, em novembro de 2021, com a colaboração do Conselho Permanente e do Conselho Episcopal de Pastoral (CONSEP) da CNBB, e de especialistas, o questionário foi sendo elaborado, cuja intenção era favorecer a aceitação e colaboração de um número suficiente de respondentes para uma pesquisa de amostragem, tecnicamente válida.
Foram abordados alguns aspectos da vida dos presbíteros e bispos no que diz respeito á vida espiritual, psicoafetiva, econômica e demais aspectos institucionais que deveriam auxiliar as reflexões, ou seja, auxiliar a refletir sobre o cuidado com a saúde dos presbíteros e bispos.
A CNBB contratou uma empresa especializada em pesquisas, que viabilizou a participação on-line, de forma fácil, pelo celular. Na Assembleia Geral da CNBB, em abril de 2022, 234 bispos responderam; e no 18º Encontro Nacional dos Presbíteros em maio do mesmo ano. A seguir, o acesso ao questionário foi enviado dos Regionais e Dioceses, resultando na resposta de 4.126 presbíteros.
Sem querer entrar nos detalhes que a análise da pesquisa proporciona – pois acredito que nosso tempo não é suficiente, e além do mais poderemos retomá-las em encontros posteriores – minha intenção é destacar alguns elementos que podem servir como ponto de partida para a organização e animação da pastoral presbiteral em nossas Igrejas Particulares.
Já no início da análise se diz que “a Igreja Católica no Brasil deixa claro que a Pastoral Presbiteral é o lugar privilegiado para promover programas de saúde e de qualidade de vida dos bispos e presbíteros. Há muito tempo ela vem insistindo na necessidade de os bispos e presbíteros se organizarem e criarem programas de saúde e de ações concretas de vida saudável nas suas diferentes dimensões: espiritual, humana, intelectual e pastoral. Por isso, encoraja, estimula e orienta as Dioceses e cada presbítero sobre a necessidade de criar a Pastoral Presbiteral na Igreja local.
- IDENTIDADE
Distribuição etária, raça, família, origem social e escolaridade
A pesquisa revela a pequena presença de indígenas e negros na vida episcopal e presbiteral no Brasil. Há uma esmagadora maioria branca na instituição católica, em regiões do mundo de intensa miscigenação e de presença abundante de outras raças, como é o Brasil, mostra claramente os resquícios do que foi, por muitos séculos, o poder político e econômico advindo das diferenças sociais e de um status embasado na questão racial.
Em relação à origem geográfica: 55% dos bispos são oriundos de áreas rurais e 45% de áreas urbanas. Em relação aos presbíteros: 47% de áreas rurais e, 53% de áreas urbanas.
Quanto ao núcleo familiar dos bispos e presbíteros: forte incidência de famílias que ganham até dois salários-mínimos, podendo, portanto, aferir menos que dois salários mínios por mês. Em seguida, é elevado o número de famílias que têm rendimentos mensais entre dois a cinco salários-mínimos.
As pesquisas da CNBB, tanto de 2017 como de 2022 evidenciam que aproximadamente 70% dos bispos e presbíteros brasileiros são oriundos de setores mais pobres da população. Portanto, sua entrada na Igreja lhes proporcionou ascensão social: passagem para uma classe na qual as condições de vida são melhores que a anterior, seja no plano intelectual, de saúde, financeiro, habitacional, de uso material, de infraestrutura pastoral, de status, prestígio e outros mais.
- MINISTÉRIO
Vocação e eclesialidade, formação, relação fraterna, vocação ministerial, remuneração, espiritualidade.
Na época revelou-se alto o interesse seja dos bispos como dos presbíteros pelos documentos do Papa Francisco. Em relação aos documentos da CNBB o porcentual de leitura, tanto dos bispos quanto dos presbíteros, tem uma queda significativa.
Se por um lado o magistério do Papa Francisco inspirava fortemente o ministério de bispos e presbíteros, as orientações da CNBB nem tanto, para a maioria o contato com elas se dá quando chegam às paróquias e outras comunidades por meio dos projetos diocesanos.
Uma vivência saudável do ministério implica também uma relação saudável com os irmãos de missão. Essa relação fraterna, amigável e empática precisa ser construída, cultivada e cuidada, pois vários fatores podem impedi-la ou ainda corroê-la, como as desconfianças, as competições, as incompreensões, o clericalismo. Para isso é de suma importância que o Bispo, a Pastoral Presbiteral e cada membro do clero se comprometam e colaborem.
A pesquisa revelou um percentual relativamente baixo de contato entre os membros do episcopado ou presbitério.
A identificação com o ministério é fundamental, pois esse processo influencia a vida do bispo e do presbítero, afetando a integralidade da saúde e das relações. Identificação tem a ver com realização pessoal e empenho pastoral. A porcentagem que diz identificar-se mais ou menos é menor que as respostas positivas; todavia, é grande o suficiente para exigir uma maior atenção e cuidado.
Em relação aos aspectos do ministério com que mais se identificam, em primeiro lugar a resposta foi orientação espiritual (55%). Outro aspecto é da orientação pastoral da diocese, sobretudo entre os bispos, diferentemente dos presbíteros. Este é um dado importante porque demonstra uma cisão na experiência diocesana. Apesar de se identificarem em grande parte positivamente com o ministério atual, a vivência pastoral do presbítero parece se desenvolver à margem dos caminhos diocesanos.
Propositalmente omito-me no que diz respeito à vocação e eclesialidade, à formação e relação fraterna; entretanto no que tange à relação fraterna vejo significativa a sugestão: “é necessário estimular a abertura, a coragem de pedir ajuda e superar as resistências que impedem a aproximação do bispo ou de um colega presbítero”.
Quanto à remuneração, a grande maioria dos bispos e presbíteros não desempenham nenhuma atividade remunerada fora do exercício do ministério. A satisfação com a remuneração recebida varia entre os bispos e presbíteros, sendo esses últimos mais insatisfeitos.
Foi dado destaque à espiritualidade, pois no clero ela contribui com a integração do homem consagrado no horizonte pessoal, vocacional, ministerial e eclesial. Ela constitui “o eixo central da sua vida, ou melhor, a fonte de toda a sua energia, a alma de sua ação evangelizadora”.
Os presbíteros a interpretam como autêntica sintonia com a Palavra de Deus transformada nas atitudes concretas, para com a comunidade a eles confiada e para todos os que deles se aproximarem.
A pesquisa revela uma alta valorização do sacramento da confissão na vida dos bispos e presbíteros; e pouca adesão à direção espiritual. Elevada adesão a Liturgia das Horas (maior entre os bispos), e a constatação de que os meios e recursos (eventos de espiritualidade) utilizados pelas dioceses não têm correspondido à demanda dos presbíteros.
A pouca adesão à direção espiritual se deve por quatro hipóteses: 1. Carência de diretores espirituais: em algumas dioceses faltam presbíteros preparados e disponíveis para esse serviço; 2. Ativismo pastoral: a correria do dia a dia usada como justificativa para não procurar um orientador; 3. Autossuficiência: postura de bastar-se a si mesmo e de julgar desnecessário buscar orientação espiritual; 4. Dificuldade ou medo de abrir-se ao confronto.
A celebração litúrgica se destaca na ordem de importância dos elementos da vida espiritual da vida dos presbíteros, demonstrando assim que a Eucaristia ocupa um lugar central na vida das comunidades.
Sem o cultivo da espiritualidade que configura o modo de ser do presbítero, com o passar do tempo, corre-se o risco de perder o sentido da vocação presbiteral. As implicações dessa perda são variadas: Deus é visto com indiferença, Jesus torna-se ideologia, o Evangelho transforma-se em lei, a Igreja se converte numa organização, a autoridade pastoral se torna abuso do poder, a missão promove proselitismo, os serviços se burocratizam, a liturgia se torna ritualismo, a vocação perde a mística e a fraternidade se converte em descompromisso e inimizade.
“A pastoral presbiteral deve ajudar a cultivar uma verdadeira espiritualidade com base na caridade pastoral, que dê sentido e vigor ao agir pastoral dos presbíteros, bebendo nas fontes da Palavra, da caridade e dos sacramentos, especialmente da Eucaristia cotidiana e da Reconciliação, na oração pessoal e comunitária, na Liturgia da Horas, na leitura orante da Palavra de Deus, na leitura espiritual, na devoção à Maria, na direção espiritual, na vida de comunidade e no serviço aos pobres e sofredores. Possibilite momentos de especial comunhão com Deus, nos retiros, nos dias de oração e nos encontros de espiritualidade. Promova a espiritualidade da caridade pastoral, da fraternidade e da solidariedade no discernimento das exigências do Reino de Deus. A espiritualidade madura garante a autenticidade e fecundidade do ministério presbiteral na gratuidade” (Diretrizes para a formação os presbíteros na Igreja do Brasil, 2018).
- SAÚDE INTEGRAL
Cuidados e prevenção, a Casa Comum, Saúde psicossocial, meios de comunicação social, saúde da instituição
A saúde é um processo que gera uma atitude capaz de harmonização e de construção de sentido, mesmo nas situações de dor, de sofrimento e de morte. Saúde pode ainda ser considerada como um processo particular das pessoas, mas também como um processo ligado à vida coletiva.
Conforme a 8ª Conferência Nacional de Saúde, ocorrida: “saúde não é ausência de doenças, mas é resultante das condições de; alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde”.
O clero tem mais possibilidade de cuidado com a saúde do que a maioria da população brasileira que é pobre ou está abaixo da linha da pobreza. A pesquisa revela que 81% dos bispos e 71% dos presbíteros cuidam da saúde…
No que diz respeito à saúde psicossocial entre os principais transtornos mentais que atingem hoje a população estão a depressão, ansiedade associada ou não à síndrome do pânico, transtornos causados pelo uso de drogas psicoativas, transtornos bipolares, transtornos obsessivos-compulsivos, esquizofrenia e outros.
Os transtornos de depressão e ansiedade, isolados ou associados, segundo dados da OMS aumentaram mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia provocada pelo coronavírus. O medo, o isolamento social, o uso das redes sociais, o abuso sexual e o abuso por intimidação são importantes causas da depressão.
As atividades indicadas para manter a saúde mental saudável indicadas por bispos e presbíteros são: a terapia individual, práticas de medicina alternativa, terapia em grupo. Há também aqueles que não acreditam em alguma atividade que ajude e seja importante para manter a saúde mental em boas condições (17%).
O uso de medicação psicotrópica diária há mais de 5 anos foi registrado por alguns. A porcentagem não é muito alta e é compatível com a verificada na população em geral. O uso dessa medicação psicotrópica esta associada à dificuldade com sono, à ansiedade e a depressão.
As causas de depressão em presbíteros que aparecem na pesquisa estão relacionadas às questões de orientação afetivo-sexual, comportamentos arredios ou profundo afastamento do clero, dificuldades no relacionamento com o bispo e com o clero, aspectos genéticos-hereditários e perda de entes queridos.
Na vida dos presbíteros algumas atitudes e comportamentos aparecem com mais frequência: cansaço, isolamento, sobrecarga pastoral e missionária, conflitos relacionados com a sexualidade, alegria e entusiasmo, dispersão de atividades à margem do ministério; indiferença, ausência de sentimento de pertença, excessivo encantamento com a presença nas redes sociais, valorização da formação permanente, dependência e vício, inclusive da internet, depressão e tristeza, desilusão, graves conflitos entre párocos e vigários.
Dois itens específicos chamam muita atenção na pesquisa e precisam ser analisados na perspectiva de saúde integral: os meios de comunicação e os níveis de estresse de bispos e presbíteros.
Os fatores que contribuem para o estresse: sentimentos de impotência, agendamento excessivo de tarefas, relações com os presbíteros e bispos e leigos, a gestão financeira, desmedidas exigências burocráticas, desilusão e desencanto, despreparo para a função.
Embora não tenha tratado da questão da formação, a análise da pesquisa revela que 90% dos bispos e dos presbíteros acham que seria interessante implementar um processo avaliativo sobe a aplicação das Diretrizes da Formação Presbiteral inicial. Além disso, mais de 90% dos bispos e dos presbíteros também acham importante envolver os órgãos e as instituições da Igreja corresponsáveis pela formação presbiteral inicial. Isso pode ser visto como um forte sinal. Uma formação inicial que é insuficiente pode comprometer a saúde integral de todos e a saúde institucional. Não é inconsistente pensar que avaliar a formação implica avaliar a instituição que forma.
“Juntos, pois, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, no seio de uma criação ferida. Ainda não somos perfeitos, mas é preciso ser credível!” (Papa Leão XIV, 31/5/25).
Cidade de Maria (Barretos-SP), 10 de junho de 2025
Dom Milton Kenan Júnior
BISPO DE BARRETOS